BLOCO DE ESQUERDA CALDAS DA RAINHA

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tanta casa sem gente, tanta gente sem casa


Visitámos novamente a distribuição alimentar feita por Joaquim Sá. Lembramos que a Câmara retirou o espaço da “De Volta a Casa” onde confeccionava ajuda alimentar e recebia as pessoas que iam à procura de algo para matar a fome. Joaquim Sá, ao contrário da Câmara, não desiste, consegue ainda fazer distribuição de alimentos por quem quase nada tem, na rua, junto ao Centro Comercial Avenida, ou no Largo João de Deus. Contra o preconceito de que quem necessita desta ajuda são apenas os que a sociedade marginaliza, como toxicodependentes ou alcoólicos, encontramos pessoas que caíram no desemprego e perderam tudo, ou outras que agora a crise aperta com a vida, com idades muito diversas.

Encontrámos no meio de aproximadamente duas dezenas de pessoas um indivíduo que vamos chamar por "José", desempregado à cinco meses, deixou de ter meios de alugar o quarto onde habitava, desesperado e sem ter forma de sustento acabou por encontrar um novo "lar", sem ser a rua, dentro de um edifício que, como muitos no nosso município, inacabado pela mesma crise que o afecta. Sem qualquer problema ou vergonha quando lhe questionei como sobrevive, simplesmente respondeu: "venho buscar a alimentação aqui ao Joaquim e governo-me assim!"

“José" refere-se ao lar com um brilho nos olhos, é com brio que descreve como conseguiu transformar aquele espaço abandonado na sua casa, aproveitando os móveis da cozinha ou outros que consegue arranjar. Uma mesa na cozinha feita de três objectos diferentes, onde se encontram os utensílios para se alimentar, uma das camas feita de paletes de madeira, outras de restos de móveis da cozinha. Mostrou-nos a vista da sua varanda inacabada, apenas um chão ladrilhado.

"No início, quando vim para aqui morar fui eu que estreei o prédio", com ele já moram outros que vivem na mesma situação, e os restantes pisos também já estão habitados. Sem electricidade, a água que utilizam vão buscar, com auxílio de garrafões, a uns 200 metros de distância de onde moram. Quanto ao banho "aquecemos a água numa fogueira que fazemos e tomamos à gato”. Explicou-nos também como lavavam a roupa: "a roupa interior lavo-a aqui, a outra costumo pedir a umas pessoas amigas que lavam na casa delas". Relativamente à situação laboral o “José” refere que "Continuo a responder anúncios de oferta de trabalho, visto que não recebo qualquer valor referente ao tempo que trabalhei".

Questionamos se o Município, em vez de mandar tapar os problemas com tijolo e cimento, tem real conhecimento do que se passa com estes cidadãos, e se não tem recursos que possa disponibilizar para atenuar a privação destas pessoas. O Município tem instalações que nem sempre estão em utilização que podem ceder para a higiene diária dos seus cidadãos aberta ao público. Os cidadãos mais afectados pela crise que perderam as suas casas, ou que lhes cortaram a luz e água, podem assim assegurar uma necessidade básica.

O Bloco também apresentou no seu programa as Hortas Urbanas, dentro e fora da nossa cidade e foi um projecto aprovado no orçamento participativo para 2013, para quem quer trabalhar a terra e não tem possibilidade de comprar ou alugar um terreno, para que possa produzir um pouco daquilo que tem de comer.

Como estas existem outras ideias de resposta à crise que vivemos, não podemos continuar a ignorar estas situações e a emparedar portas a quem nada tem. Tanta casa sem gente, tanta gente sem casa.

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