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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

20 de Novembro, Mobilização Anti-NATO

O sistema liberal do ocidente dá sucessivos sinais de esgotamento e eminente colapso. Ninguém sabe disto melhor que as suas cúpulas e dirigentes. O período do pós-Guerra-Fria criou uma ordem mundial de expansão do modelo ocidental à escala planetária, genericamente designada por globalização. Sendo naturalmente um sistema promovido pelos vencedores desse período que emergiu da queda do muro de Berlim e do esboroar da ex-URSS e do Pacto de Varsóvia, durante muitos anos foi apresentado como o único paradigma possível e viável.

Este novo mundo parecia não ter lugar para uma organização como a NATO. Uma organização de tipo militar que representava uma região do globo tinha-se tornado obsoleta. O desmantelamento da NATO seria o passo óbvio, não fosse, a capacidade da própria organização interna da NATO querer e poder resistir a essa solução definitiva. Desde a sua fundação em 1949 e até 1989, a NATO tinha uma missão definida e clara: era um pacto de defesa comum em oposição a uma ameaça vinda do leste europeu, protagonizada pelo Pacto de Varsóvia, entretanto extinto em 1991. A partir de 1989 a NATO mergulha numa crise de identidade. Para que serve uma organização militar sem inimigos? Depressa se tratou de resolver este problema, criando as condições nos explosivos países dos Balcãs que justificassem a intervenção das forças da NATO. A própria burocracia interna da organização, transversalmente constituída por elementos dos diversos países que compõem a NATO, resistia à sua extinção. A guerra é um bom negócio. E as comissões da NATO pagam bem aos seus mercenários.

É actualmente consensual nos meios académicos que estudam os conflitos recentes, e junto do corpo de jornalistas que acompanharam os acontecimentos no terreno, que o conflito dos Balcãs teria sido resolvido muito mais cedo e sem o volume de baixas que teve, se a “diplomacia “ da NATO não se ocupasse de incendiar os ânimos em pólos opostos para depois justificar a sua intervenção. Mas a NATO vivia nesses tempos sobre ameaça da profecia de James Baker que afirmou em 1994 que “A NATO ou se alarga ou morre”. Intervenção nos Balcãs respondeu a este grito de alerta de forma tão eficaz que deu origem a um novo país, o Kosovo, que se viabiliza pela existência de uma base da NATO, e uma economia assente no crime e em todos os tipos de tráficos. Um protectorado à século XXI. Onde se vive e se faz tudo exactamente ao contrario dos princípios e dos valores ocidentais que a NATO se arroga de defender. Exemplar.

A lógica expansionista da globalização económica é acompanhada, a par e passo, pela estratégia da NATO. A abertura de mercados fora do eixo atlântico e a expansão do “Mercado Livre” foi acompanhada pelo conceito de “desterritorialização” da NATO. Ou seja, dito de outra maneira, a desrregulamentação económica que acentuou a exploração e precarização do trabalho nos países do terceiro mundo, e pressiona o mundo desenvolvido a fazer o mesmo, foi bem acompanhada pelo “conceito” de intervenção “out of area”, ou o assumir da NATO da sua vocação agressiva em qualquer parte do globo. A globalização de uma lógica imperialista devidamente protegida por uma guarda pretoriana.

De tempos a tempos lá vem a NATO fazer a sua operação de charme. Uma gigantesca operação de propaganda auto-justificativa, não vão os súbditos do verdadeiro poder por detrás da organização começar a coloca-la em causa. Aos EUA interessa esta organização que ajuda a manter os seus súbditos em ordem. Como potência dominante saída da Guerra Fria os EUA têm trabalhado pela sua hegemonia em todos os campos, e a NATO é uma boa ferramenta para manter os seus aliados em submissão e como clientes da sua gigantesca indústria de armamento, vital à sua própria economia interna.

A aliança atlântica obriga os seus elementos a grandes gastos militares, injustificáveis perante as suas populações. A prioridades bélicas que desviam recursos económicos do verdadeiro desenvolvimento que interessa aos povos. A disputarem guerras onde o que está verdadeiramente em causa são os interesses das grandes corporações, o petróleo e outros recursos naturais que garantem o “american way of life” e que mantêm a lógica predatória e insustentável do planeta. A NATO é o principal instrumento de dominação do capital global que impede os povos de optarem por outras vias de desenvolvimento. Um desenvolvimento assente em premissas de paz, sustentabilidade ambiental e justiça social, na construção de um mundo solidário entre os povos em que a igualdade substitua o actual sistema, em que para uns poucos terem tudo, a grande maioria não tem nada. E é vítima de guerras, ou obrigada a fazer guerras que não deseja.

As ameaças que actualmente se colocam a um pequeno país como Portugal tornaram a existência das actuais forças armadas obsoletas. Mantemos um exército sobredimensionado, voraz consumidor de preciosos recursos, quando as ameaças tradicionais ou de carácter militar desapareceram. Nos dias que correm ninguém nos quer invadir ou atacar militarmente. E se esse cenário alguma vez se confirmasse as nossas forças armadas não resistiriam mais do que uns poucos dias. Só os compromissos com a NATO nos obrigam a manter um exército que já não serve para nada e poderia agora ser redimensionado para uma escala mais pequena, redefinindo a missão das forças armadas, repensando conceitos de soberania e de interesses estratégicos do país. No dia que formos assolados por uma súbita catástrofe natural, ou se produzirem efeitos extremos resultantes de alterações climáticas, não será o exército que nos defenderá nem a NATO que nos virá acudir. Na ameaça à coesão nacional e à sustentabilidade do território que já hoje se verifica pela desertificação do interior, o exército não nos serve para nada. Nos incêndios que todos os verões se abatem sobre nós como uma maldição, o exército não tem nenhuma acção. Como nas cheias que de inverno transtornam as áreas urbanas, mal planeadas e mal construídas, para satisfação do lucro de alguns que agora todos pagam, também o exército não tem nenhuma acção. Nem deve ter. A opção política mais certa seria por forças de protecção civil, devidamente preparadas e com todos os meios e recursos necessários, para prevenir e combater estes flagelos que nos atacam ano após ano.

A NATO não existe para defender os povos. Aos verdadeiros donos da NATO, as grandes corporações multinacionais que exploram os despojos que a NATO lhes proporciona e que rentabilizam na sociedade de consumo que continuamente estimulam, apenas interessa o lucro imediato. Portugal dispõe dos mecanismos constitucionais que nos permite sair da NATO. Assim houvesse a vontade política dos partidos que têm conduzido os destinos do país em democracia. Mas como se tem visto, as elites desses partidos cultivam uma atitude de submissão ao poder imperialista e hegemónico dos EUA, e aos interesses económicos das grandes multinacionais. Pelo caminho, legitimam-se agressões injustificáveis, como a invasão do Iraque decidida na, tão célebre quanto triste e de má memória, cimeira dos Açores. E tornamo-nos todos num povo agressor ao participar, ainda que mitigadamente, na guerra de ocupação do Afeganistão. Uma participação sem qualquer legitimidade política, decidida sem uma discussão parlamentar na Assembleia da República. Uma decisão silenciosa de um governo que ignora uma dimensão ética e pacifista da Constituição da República Portuguesa, saída de uma revolução política despoletada por uma revolta militar, provocada por uma prolongada guerra colonial. Os avanços civilizacionais, e sobretudo a esperança na construção de um mundo melhor que a nossa Constituição traduz, são todos os dias contrariados e humilhados pelo regresso ao paradigma da guerra infinita, que a NATO representa e quer legitimar na cimeira de Lisboa, em mais uma gigantesca acção global de propaganda política de má consciência. O tempo é de protesto cívico e político.

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